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Marcados na Sociedade

Brasil possui média de casos de hanseníase 400,6% maior que a média mundial, em Mato Grosso do Sul foram diagnosticados 1.548 novos casos em 2017.

Texto, fotos e vídeos:

Dândara Genelhú, Pâmela Machado, Stefanny Azavedo

Hanseníase em índices

Hanseníase em índices

Hanseníase, conhecida como Lepra, é uma doença crônica, transmissível e de notificação compulsória em todo território brasileiro, segundo o portal do Ministério da Saúde. De acordo o boletim epidemiológico publicado pelo Ministério da Saúde, o Brasil é o segundo país no mundo com maior índice de novos casos de hanseníase diagnosticados anualmente.  A média do país é quatro vezes maior que a média mundial de casos. No Brasil, em 2017, foram diagnosticados 26.875 casos novos, ou seja, 12,9 casos novos a cada 100.000 habitantes. A média mundial, em 2017, foi de 2,8 casos novos a cada 100.000 habitantes. 

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De acordo com dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus) em Mato Grosso do Sul foram registrados 1.548 casos de hanseníase em 2018. Campo Grande é o município com maior índice de casos, em 2018, foram 271 ocorrências. O portal registrou um aumento de aproximadamente 905% no número de casos novos do grau dois da doença no estado. Em 2001, os números apontam que 1,52 pessoas para cada 100.000 habitantes possuíam a doença. Em 2016, foram 15,28 casos da doença para cada 100.000 habitantes. Os índices de cura reduziram entre 2001 e 2016 cerca de 16%.

Atendimento em Mato Grosso do Sul

Atendimento no MS

O Hospital São Julião é referência no tratamento da hanseníase no Mato Grosso do Sul. Entre os meses de janeiro à novembro de 2017, foram 121 pacientes internados devido a hanseníase, 82 da capital, 38 do interior e um de outro estado.

De acordo com dados disponibilizados pelo hospital São Julião no Mato Grosso do Sul, em 2017, dos 79 municípios do estado, 63 diagnosticaram casos novos de hanseníase. Os municípios de Bodoquena, Corumbá, Jardim, Naviraí, Nioaque, Sonora e Três Lagoas diagnosticaram casos novos em menores de 15 anos. Uma publicação do governo de Mato Grosso do Sul apontou que, entre fevereiro e março de 2019, foram diagnosticados 78 casos novos de hanseníase no estado, com 76 casos na população em geral e dois em menores de 15 anos. Os casos foram diagnosticados pela projeto “Roda - Hans: Carreta da Saúde”.

Hospital São Julião

Hospital São Julião

De acordo com a Lei nº 610, de 13 de Janeiro de 1949 a internação de pessoas com hanseníase era compulsória, previa o isolamento do paciente em domicílio ou leprosário, termo em desuso atualmente. Em Campo Grande os filhos de pacientes com hanseníase submetidos ao tratamento em leprosário eram encaminhados para o Educandário Getúlio Vargas.


No final da década de 30 foram criados hospitais colônias para o tratamento da hanseníase. Esses hospitais foram construídos com uma estrutura própria para que os pacientes morassem no local. O Hospital São Julião é um desses hospitais e foi inaugurado em 1941. Era administrado pelo Governo Federal e a partir de 1970 passou a ser administrado pela Inspetoria Imaculada Auxiliadora (IIA) e se tornou um hospital particular que presta serviço para o estado e para a prefeitura. 


Na década de 1970 o tratamento era realizado apenas no exterior, no Brasil começou em 1986. Com a chegada dos medicamentos no país as pessoas começaram a fazer o tratamento em casa, passou a ser possível conviver com a sociedade e fazer o tratamento. A partir de 1986 a internação deixou de ser compulsória.

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Para o diretor administrativo do Hospital São Julião, Amilton Fernandes Alvarenga o hospital se tornou referência devido a sua origem e atualmente dispõe de uma equipe multiprofissional que atende oito especialidades médicas. “Hoje as pessoas podem fazer o tratamento em casa, mas o hospital continua sendo referência. Nós temos uma equipe multiprofissional com psicóloga, assistente social, neurologista, dermatologista, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, ortopedista, fonoaudiólogo e toda uma equipe para cuidar do tratamento e da reabilitação.”

Alvarenga ressalta que hospital possui uma estrutura que o faz referência na região, além da equipe de apoio possui uma sapataria que faz sapatos especiais sob medidas de acordo com perda do paciente, seja ela amputação ou deformidade nos pés. 

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Amilton Fernandes Alvarenga,

diretor administrativo do Hospital São Julião.

O sapateiro João Fernando Damacena, 82 anos relata que sem a sapataria no hospital os pacientes ficariam sem andar devido às deformidades causadas pela doença. Ele ressalta que os calçados especiais além de contribuir para a mobilidade do paciente auxilia na recuperação dos ferimentos. “Quando está no começo o médico manda pra cá, vem a receita para fazer as palmilhas e evitar de dar mal perfurante ou às vezes quando tem o pé equino tem que fazer uma férula de ari para ele não ficar com pés caídos.”

a doença

A doença e suas marcas

Anselmo Tolote veio de Batayporã, passou por Dourados até ser encaminhado para Campo Grande e realizar o tratamento no Hospital São Julião. Ele relata que para o diagnóstico foram realizados os exames de sensibilidade tátil, térmica e dolorosa. O tratamento foi iniciado em sua cidade de origem, logo após a hanseníase ser identificada.

O trabalhador rural Aparecido Penteado, 63 anos, convive com a doença há oito anos, veio de Iguatemi, cidade localizada cerca de 467 km de Campo Grande para realizar o tratamento no Hospital São Julião. Segundo ele, os primeiros sintomas foram febre, mal estar e falta de apetite. Na Unidade Básica de Saúde onde buscou atendimento foram realizados exames que  diagnosticaram anemia, para o qual recebeu tratamento. Sem melhora do quadro foi encaminhado para Naviraí e depois para Dourados, com o agravamento do estado de saúde decidiu buscar outros médicos, com atendimento particular. “Foi onde eu tive informação deste hospital e vim pra cá. Com 60 dias de tratamento eu já fiquei bom e pude ir para casa, continuar o tratamento. Tive que tomar os remédios e a cada 30 dias tinha que retornar e fazer os exames.”  

 

Durante os anos de tratamento, Penteado sofreu lesões na perna que permanecem sem cicatrização, no hospital os primeiros curativos foram feitos, logo o encaminharam para realizar os procedimentos na unidade básica de saúde mais próxima. O trabalhador rural relata que as lesões são consequência de um diagnóstico tardio da doença. “Isso tudo foi por falta de médicos competentes, se tivessem visto antes eu não teria que amputar a perna agora. Se tinha as manchas, eles podiam muito bem saber que era hanseníase.”

Aparecido Penteado,

trabalhador rural.

O trabalhador rural José Nelson Inácio da Silva, 59 anos, veio de Sidrolândia cidade localizada cerca de 71 km de Campo Grande. O diagnóstico de Silva foi realizado em uma Unidade Básica de Saúde da capital em 2011 e o tratamento realizado no Hospital São Julião até 2013, há três meses retornou ao hospital para tratar uma lesão na perna. Ele relata que dos três irmãos um morreu em decorrência da hanseníase e que por isso acredita ter convivido com a doença sem passar por qualquer situação de preconceito.  “Eu já tive caso na família, pessoas tiveram, fizeram o tratamento e se curaram, só o último que faleceu em 2010.”

o tratamento

O tratamento

Segundo a enfermeira da Área Técnica de Hanseníase da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), Vanessa Coelho Ferraz a hanseníase é uma doença infecto contagiosa que atinge a pele e os nervos. O bacilo-de-hansen é transmitido pela fala, espirro ou tosse. “A transmissão é no ar. Então aquele mito de separar os talheres e os pratos, não sentar no mesmo local, tudo isso não existe, porque em qualquer lugar pode ser transmitida essa doença, ela está no ar.”

Vanessa Ferraz destaca que a doença apresenta duas formas, multibacilar e paucibacilar, ambas com tratamento. Na primeira forma a doença tem muitos bacilos, uma pessoa com essa forma pode contaminar outras. Em sua segunda forma a doença apresenta poucos bacilos e uma pessoa com ela não contamina outras. “Para cada uma das forma é um tratamento específico, para a paucibacilar o tratamento é por seis meses e o multibacilar o tratamento é por um ano, tomando todos os dias o medicamento. A forma multibacilar pode se estender o tratamento para mais um ano.”

Vanessa

Coelho

Ferraz

como vem se falando mais sobre a doença para diminuir esse preconceito, está ocorrendo uma procura maior também

A enfermeira explica que o tratamento é feito via oral e que alguns dos medicamentos têm efeitos colaterais como deixar a urina alaranjada ou o escurecimento da pele, por isso alguns pacientes acabam por abandonar o tratamento. “Quando é dispensado o medicamento, o enfermeiro ou quem dispensou a medicação já informa o paciente que pode ocorrer algumas alterações ou reações, mas que não abandone o tratamento. E se ele tomar diariamente e no tempo correto, ele vai alcançar a cura.” 

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Para a enfermeira a busca pelo profissional de saúde tem aumentado o que reflete no crescente números de notificações no estado. “Acredito que como vem se falando mais sobre a doença para diminuir esse preconceito, está ocorrendo uma procura maior também.”  Ela reforça ainda sobre a importância de se notificar um caso e de que os familiares do paciente também devem ser avaliados para identificar um possível contágio. “Quando um caso de hanseníase é notificado são convocados todos os familiares que residem com o paciente, falamos sobre a doença e são realizados exames.” 

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Dândara Genelhú

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Pâmela Machado

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Stefanny Azevedo

EQUIPE

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